quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Menos efêmera do que a encomenda

"Tulipa Ruiz é a Adele dos pobres". Essa foi uma das pérolas que eu li na internet (precisa dizer que foi no Twitter?) assim que saiu o resultado da eleição do "juri técnico"  no prêmio Multishow (gente, eu sei que eu falo até demais de prêmios aqui, e talvez nem devesse, já que o bom senso me aconselha a não levar tão a sério os critérios de algo que possa galardoar o Restart e similares. Enfim, mas já comecei, então bora lá...).


Se você não chegou a escrever algo como essa frase inicial (e nem deu RT =]), mas pensou em algo que se aproximou a "a única Tulipa que eu conheço é a de chopp", cê tá precisando mesmo ver esse vídeo, amigo. Explicações da própria sobre a história pessoal, carreira, disco "Efêmera" e outras coisas que podem fazer você passar a amá-la - ou, ainda assim, preferir o choppão com o colarinho branco transbordando, vai saber, né...


Ah, como poderia me esquecer de comentar: participação da Céu, no vídeo, ainda que mudinha.  
P.S.: Eu prometi que ia escrever pouquinho de agora em diante, não prometi? :)

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Reggae da crioula doida

Traças, ratos, baratas e outros bichos inominados operam mais do que eu nesse blog, eu sei. Bichos escrotos, saiam dos esgotos do meu blog! Acontece que eu ando sem tempo e não tem dado pra escrever sobre as coisas que eu AMARIA dissertar litros - passou o aniversário da (já in memorian) diva-mor Clara Nunes, hoje é aniversário da diva (nunca-antes-tão-viva, vide os garotos que ela pega!) Madonna, e por aí vai pedrada e assunto escorrendo pelo ralo da minha blogosfera tão rala (não, não virou blog de aniversário não, é que oportunidade é oportunidade). Foi mal, Brasil, mas, de agora em diante, a regra aqui é não ter regra e eu vou postar o que der na telha - ou na timeline do meu twitter mesmo.


Seguindo pelo random rules, acabei de ver esse vídeo aqui e vou dizer as duas primeiras coisas em que eu pensei: 1) "Joss Stone tá pagando de Lauryn Hill?"; 2) Mick Jagger tá pegando a Joss Stone? (eu avisei que seria aleatório, eu aviseeeeei). Bem, se trata do primeiro (?) vídeo divulgado da SuperHeavy, banda que o rolling stone formou com os coleguinhas de estilos nada-a-ver com o dele a fim de fazer uma espécie de feijoada polifônica do Tio Sam (ou da Queen Elizabeth, né, melhor dizendo...). "Ah, super tendência misturar estilos e criar vibes positivas novas, somar pra multiplicar e etc..."... Pois é, só que EU achei jogada publicitária forçada demais, não sei se vocês vêem dessa forma, mas é aquela coisa que nasceu de maneira muito óbvia pelo público e muito pouco pela música... não é que não tenha qualidade musical, o problema é que a essência aí é juntar a multidão através de artistas já consagrados. "E qual é o problema de juntar a multidão?"... Ué, se você não tiver agorafobia, nenhum problema, só tô tentando dizer que esse tipo de pegada talvez até convença por um tempo, mas não me conquista.


Joss, vou ouvir teu último álbum que eu ganho mais.





P.S.: Impressionante como eu me sinto mais à vontade criticando do que elogiando. Farei uma análise antes do próximo post.

sábado, 23 de julho de 2011

Back to Black


* Este post é, em parte, uma tentativa de "despedida" e, em parte, uma homenagem ao meu amigo @rehabdocris, uma das pessoas mais apaixonadas pela voz e pela vida de Amy Winehouse.


Ela se foi e, junto com ela, boa parte das minhas esperanças para futuros posts desse blog. 

Em meio à todas as informações que eu estou recebendo nesse dia a respeito do falecimento da Amy (como notícias sobre a coincidência inútil de outros grandes nomes da genialidade musical rebelde também terem falecido aos 27 anos - afinal, já podemos consultar místicos para nos explicar esse fato inequivocamente cabalístico e, assim, quem sabe, salvar vidas, não é, imprensa?) houve uma que me prendeu e sintetizou com maestria e delicadeza o que essa voz rouca, forte e triste significou pra quem realmente já pôde admirá-la: a manchete de um jornal estrangeiro que afirmava "Morre Amy Winehouse, a cantora que ressuscitou o soul".  Melhor descrição, impossível. 
Lembrar de Amy, pra mim, é lembrar de uma conversa num restaurante em Olinda no começo desse ano. Quatro cearenses, uma mineira e algumas expectativas sobre a noite que estaria por vir - o primeiro e único show no nordeste daquela que seria a última turnê da vida da cantora. Já tínhamos falado a respeito das mais diversas coisas - do preço do peixe que comeríamos às gírias típicas do cearês, em meio a olhares desconfiados da única não-conterrânea na mesa - quando o @rehabdocris, até então meio calado, na dele, começou a falar sobre o que realmente o tinha feito sair da sua cidade naquela ocasião. Nós comentávamos o fato do restaurante estar cheio de turistas, das mais variadas idades, tipos físicos e regiões geográficas, e de boa parte deles estarem lá trazidos pelo show da cantora, pelo que percebíamos através dos comentários que se ouviam nas mesas ao lado. E ele ressaltou o ponto ao qual quero chegar: a personalidade artística da Amy consegue atingir todo mundo, não importa se você é jovem e curte uma vertente meio punk, ou se você se é músico experiente que se amarra em firulas vocais e arranjos de jazz - de uma forma ou de outra, você será fisgado. Outros comentário, do mesmo apaixonado Cristiano, define bastante o êxtase que ela causa na gente: "Você chega no show, vê ela parecendo um pedaço de pau, e de repente ela abre a boca e.. meu Deus, de onde é que sai tanta voz?" (sic) (Essa última foi no quase coma espiritual pelo qual o autor da frase passou depois de chegar do Recife Summer Soul Festival - o qual eu curti diretamente do quarto da pousada, confesso com tristeza, conseguindo perder Amy Winehouse e Janelle Monae numa noite só - exibindo algo nos olhos que se assemelhava a lágrimas de felicidade, realização ou qualquer coisa que só ele pode tentar descrever).

E é isso mesmo que ela representou - e ainda vai representar pros meus filhos, sobrinhos e todas as pobres futuras gerações às quais eu obrigarei, com autoritarismo, a farei conhecer aqueles que transformaram meus sentimentos em música. A voz rouca, estrondosa e naturalmente embriagada, as letras sacanas, irônicas e melancólicas, a origem judia, o visual de pin-up devastada pela vida boêmia, os dramas pessoais escancarados através dos invasivos tablóides britânicos ou de manifestações explosivas próprias no contato com o público, tudo isso faz parte da miscelânea e da contradição que foi Amy Winehouse - e, acredite, sem esse caos sentimental regado a álcool que foi ela, talvez não teríamos nem metade de "Frank" e (principalmente?) "Back to Black".  



Ver também: 


sábado, 16 de julho de 2011

Voltei. Cadê assunto?

É com muita saudade, assunto acumulado, conteúdo parco e desculpas esfarrapadas que eu volto a postar alguma coisa aqui, depois de longa abstinência bloguística.


O vídeo a seguir é bem mesmo a cara de "voltei pro blog agora com a cara mais lavada, fiquei como?". Gravaçãozinha pequena de parte de uma entrevista feita com o Nelson Motta após o Diálogos Universitários (sim, aquele mesmo, patrocinado pela Souza Cruz... Abstenho-me das críticas, por ora) na UFC, em 12 de maio.


Situação muito estabanadinha, confesso: me inseri na entrevista alheia meio sem pedir licença, enquanto descíamos as escadas após o término da palestra (e o assessor do evento apressando o Nelson por conta do vôo de retorno); ele bateu na câmera enquanto falava, eu o chamei de "senhor" pelo menos umas cinco vezes (mediante aquele olhar insistente de "minha filha, o senhor está no céu!"). Mas o resultado acabou, na minha concepção, sendo bem positivo: fiz contato com os "pioneiros" naquela entrevista (@eliasbruno e @alinecaetano_, ambos estudantes de jornalismo da UFC, assim como eu, que gravavam material para o programa "Cult Pop", na ocasião) e, de quebra, arranquei como resposta à minha pergunta aquilo que eu mais gosto de ouvir quando faço um questionamento, qualquer que seja ele, sobre música: um versinho ou dois de determinada canção que se insira perfeitamente no contexto. Pergunta sobre música se responde cantando, ora essa!



E, como em toda situação indiscreta - nas quais eu me meto sem pudor e constantemente - saiu alguma coisa no início do vídeo que não tem absolutamente nada a ver com o meu assunto, mas que eu achei interessante e resolvi deixar aí pra quem quiser ver. Ele tece comentários bem capciosos sobre a escolha das bandas pro Rock in Rio 2011 ("metade daquilo ali podia passar batido que eu não ia nem que me pagassem cachê...") e rasga elogios ao Léo Cavalcanti, que participara do especial Som Brasil em homenagem ao próprio Neson Motta, assim também como a banda cearense Cidadão Instigado e a cantora e atriz Marjorie Estiano.

Falando em Marjorie, pra finalizar essa postagem e pra não dizer que não falei das flores, vale a pena conferir o toque pessoal dela nessa mesma edição do Som Brasil, cantando "Certas Coisas", parceria entre Nelson Motta e Lulu Santos - e que nos acostumamos tanto a ouvir na voz do último. 





segunda-feira, 16 de maio de 2011

"Te Amo"


"Entender não é exatamente o que se quer, depois dessa inundação". A sentença no release do escritor Mia Couto sobre o último álbum de Vanessa da Mata, "Bicicletas, Bolos e Outras Alegrias", define bem a sensação que eu mesma tive após a experiência de ouvir - e de sentir - todas as canções do álbum (em especial, confesso, "Te Amo" e "As Palavras").

Desde que tinha ouvido "Te Amo"(tardiamente, janeiro de 2011), caí de paixão pela sensibilidade da letra, tão cativante na voz doce de Vanessa, e fui pesquisar na página oficial da cantora. Descobri então que o clipe da música ainda não fora divulgado pois estava sendo consumado, com a direção impecável de Wagner Moura - ou seja, ansiedade total pela divulgação! Pois bem, foi só eu respirar um pouco mais lentamente para o clipe cair na internet e eu nem me dar conta disso! A produção de "Te Amo" foi finalmente divulgada neste abril, e veio parar no blog só em maio, mas "antes tarde do que nunca" pra eu me desmanchar aqui, revelando minhas paixões.

A expectativa pra conhecer o resultado final foi grande devido ao envolvimento do nome de Wagner e também à minha predileção pela música, mas tenho que admitir que não imaginava que o resultado faria valer tanto o tempo esperado.

A estrela da cena, escolhida sabiamente por Wagner mediante indicação de Chico Acioly, é nada menos que a multi-artista Marilena Ansaldi, hoje com 76 anos, nome fundamental no estudo das artes cênicas brasileiras, e que é considerada uma das primeiras "performers" de nosso país. A artista afirmou que ficara surpresa diante do convite do diretor, já que fazia mais de três anos que se encontrava afastada da vida cênica, e também que, por ser de uma geração diferente da de Wagner Moura, nem imaginava que ele a conhecesse.

A filmagem em preto e branco e o cenário de paredes negras riscadas com poesias em giz ajudam bastante a reforçar a dramaticidade do momento. A interpretação aqui não cabe em explicações - voltemos ao raciocínio inicial de Mia Couto e nos entreguemos nas feições, movimentos e sons que constituem o vídeo, sem esperar chegar a qualquer conclusão.





Extras:

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Ressuscitando Cyndi Lauper

      Calma, gente, não é que ela tenha morrido ou qualquer coisa assim. Na verdade, não é nem que de fato ela tenha desaparecido de vez da mídia, da música ou dessas plataformas gerais da fama. O fato é que na MINHA vida (isso é um blog pessoal, não esqueça) ela não existia desde os dias em que minha mãe gritava "just wanna, justa wannaaa-aaa" desesperada nos 80's e 90's. Até que, nesse ano, alguns fatos ocorreram que me fizeram rememorá-la.


     O primeiro foi, sem dúvida, a turnê dela pelo Brasil. Em janeiro desse ano eu dei uma passada rápida pelo Recife, pro show da Amy que eu não vi (sobre isso, falem com os pops Cristiano Lemos e Larissa Andrade, eles terão mais informações pra vocês), e lá estavam sendo divulgados exaustivamente tanto o show que a Cyndi Lauper realizaria, em fevereiro, quanto o dos Backstreet Boys (pensei: "gente, é muita múmia, é muita decadência").

      Después (só muito "después" mesmo, já que isso era notícia de 2010 e eu só vim ter conhecimento nesse ano), vi aquele vídeo, bastante emocionante, aliás, do GMCLA - Gay Men's Chorus of Los Angeles cantanto "True Colors" no prédio de uma igreja Presbiteriana ("True Colors" é composição da Cyndi e também nome de uma fundação de apoio LGBT criada por ela e mantida por outros tantos famosos).

      Aí, de repente, não mais que de repente, me vem o vídeo do Arcade Fire cantando "Girls just wanna have fun" (sim, aquela música que minha mãe curtia litros enquanto me mandava fazer a lição de casa). A banda canadense de indie/alternative rock (que também tem umas musicistas incríveis, diga-se de passagem) dividiu o palco com a musa oitentista do pop em meio a um festival de Jazz (New Orleans Jazz and Heritage Festival) nesse último 6 de maio. Nada mais sincrético, não? (A qualidade do áudio não tá tão boa assim, mas sejam bonzinhos e não reclamem, tá?)

terça-feira, 3 de maio de 2011

Sem Esperanza.

Andava futucando novidades e velharias em lojas de cds quando me deparei com o álbum oficial do Grammy Awards 2011 (esse aí mesmo da capa ao lado). 
Meio que só pelo costume de dar uma olhadinha, já sabendo que não tinha muito interesse em comprar, fui conferir as faixas, que obviamente corresponderiam  a uma seleção dos vencedores das principais categorias do prêmio (peneira apertadinha, já que são 109 as categorias premiadas, embora seja comum que um artista leve o gramofone em mais de uma categoria).
O primeiro nome que me veio à memória para procurar na lista foi o de Esperanza Spalding, jazzista estadunidense que surpreendeu a todos nesta 53ª edição da premiação ao roubar o doce de uma criança ao tirar o prêmio de "artista revelação" do astro teen Justin Bieber (o qual, apesar de aclamado por milhares de adolescentes descabeladas e franjadas, saiu da premiação de mãos vazias).


Confesso que só tomara conhecimento da existência e, acima de tudo, do talento de Esperanza no ato da entrega do Grammy 2011, em fevereiro, quando fui obrigada pela minha própria consciência a ouvi-la pelos meios dos quais eu disponibilizava na hora (leia-se "youtube"). E a surpresa, confesso ainda, foi muito boa, ao vê-la tocando o seu contra-baixo monumental e cantando, num português muito simpático, diga-se de passagem,  "Ponta de Areia", composição de Milton Nascimento e Fernando Brant. Na mesma noite do Grammy, e durante boa parte do dia posterior também, enquanto eu me deslumbrava nos primeiros contatos com a jazzista, "Esperanza Spalding" era Trending Topic certeiro no Twitter, em parte devido à surpresa de quem a conheceu na premiação (ou já a conhecia e só testificou o seu talento) e, em outra parte, devido aos ataques dos fãs de Bieber na sua página na internet.

Voltando para o ponto em que comecei, enquanto procurava o nome da minha nova jazzista do coração na lista de faixas do cd, percebi que ela não estava lá. Tentei ver se havia um bônus track ou qualquer coisa assim... e nada! Como assim, Bial? Esqueceram a Esperanza ou simplesmente não acharam comercialmente interessante incluí-la nas faixas?

Ah, sim, antes que eu seja linchada ou qualquer coisa parecida: também senti falta de alguma faixa do Muse (mas, pessoalmente, não considero o prêmio faturado pela banda - "Melhor álbum Rock" - tão imponente quanto o de "Artista Revelação", logo, a sua ausência não foi sentida por mim com tanto pesar).

O curioso é que os álbuns anteriores do Grammy Awards (2010 e 2009) possuíam 20 faixas, e, o desse agora, só 19. A faixa vazia me soou quase como um minuto de silêncio pela ausência de Esperanza. Mas, vendo pelo lado bom, pelo menos não tem nenhuma faixa do Justin...



Extra: CONFIRA AS FAIXAS DO ÁLBUM OFICIAL DO GRAMMY 2011 AQUI



quinta-feira, 28 de abril de 2011

"Interessa?"

Carvalhinho, autor da canção cujo título esse post arrogantemente reproduz, talvez não soubesse que a petulância orgulhosa e feminina dessa sua música encontraria encaixe perfeito numa intérprete nascida mais de dez anos depois de sua morte. "A sorte não é pra todas, talvez seja só pra mim..." nunca seria cantado com tanta elegância e presença quanto a que proporcionaram o talento e a técnica de Roberta Sá.

Sim, antes de começar a me empolgar aqui (coisa inevitável, já tô empolgadíssima pra sair louca e desbaratinada falando tudo o que tenho amado na carreira dessa "potiguar acariocada"), gostaria de começar pedindo perdão a quem lê. Sim, perdão. Primeiro, gostaria de afirmar veementemente que não, esse NÃO é um blog em homenagem à Roberta Sá, embora entre os dois primeiros posts tenhamos a presença dela em ambos. Esse é um blog sobre intérpretes femininas. Gostaria, ainda, de ressaltar que o fato de esse não ser um "blog-homenagem" não significa em absoluto que a cantora não mereça – dentro em breve, verão o quanto eu sou apaixonada por ela – e sim somente porque a minha proposta é outra, e porque blogs em homenagem ou acompanhamento à carreira dela já existem vários (se quiser dar uma conferida, tem o Moderação Roberta Sá, criado e alimentado por fãs, a página da própria Roberta e o blog oficial, de responsabilidade da assessoria de imprensa da mesma, o perfil oficial no twitter e perfis outros criados por admiradores – além, é claro, da infinidade de informações que a internet vai disponibilizar àquele que tiver tempo e interesse). Devido a tudo isso, não vejo a necessidade de discorrer sobre informações como discografia e pormenores da carreira da artista, minha intenção é falar do meu sentimento de aprisionamento e identificação à forma dela de fazer música. Sim, é um blog sobre música mas também um blog pessoal. E por falar em pessoal...

Tentei, tentei ao máximo fazer o primeiro post “valendo” sobre qualquer outra artista que admiro, já que são tantas e tão boas. Mas sabe o que é que é... eu estaria me traindo se fizesse isso! Porque eu simplesmente não tenho conseguido ouvir outra coisa com a mesma intensidade com a qual me deleito em aproveitar “Pra se ter alegria” e “Quando o Canto é Reza” (meus followers no twitter que o digam...), últimos álbuns gravados por ela. Seria injusto comigo não falar do que eu tenho vivido primeiro, e (deixa eu incorporar a Lady Kate) aqui é tudo meeeu, tudo meeeu, então vou ser egoísta o suficiente pra poder ser repetitiva e chata e falar primeiro do que eu gosto, HUMPT!

Bem, essa história de Roberta Sá na minha nada mole vida é meio que um conto de amor e ódio (vocês verão o porquê), iniciado assim que ela gravou o “Que belo estranho dia pra se ter alegria” (2007), segundo álbum da carreira (sim, o primeiro, “Braseiro”, de 2005, nem mesmo chegou a ser conhecido pela minha nobre pessoa na época).

"Que belo estranho dia pra se ter alegria" - 2007

"Braseiro" - 2005 (repare na carinha de ninfeta da nossa amiga...)


E a história de amor e ódio começou com... o ódio, é claro, assim como todas as histórias que terminam bem (sendo que essa ainda não terminou, o romance atualmente está no ápice. Espero, com fé, que seja eterno enquanto dure, e que dure para sempre). O que acontece é que eu ficava extremamente irritada toda vez que ligava o rádio (sim, ainda ouço rádio, e MUITO) e ouvia toda vez aquela mesma música chatinha (tô falando de “Belo estranho dia de amanhã”). Aquela coisinha de “dentro do banco central o pessoal vai esquecer como é que assina a própria assinatura” me deixava nervosa! Ficava pensando: “quanto é que pagam pra rádio pra ela ficar passando 24 horas por dia essa pseudo-MPB e fazer a gente engolir que a música é boa só porque a voz da intérprete é agradável?” (foi mal aê, Lula Queiroga, autor da bagaça toda, mas eu pessoalmente acho essa letra um tanto quanto sacal). 

Desde então, apesar de não ligar bem o nome à pessoa, sabia que Roberta Sá era a menina que cantava a “música do meu abuso”. Nem a interpretação dela de “Casa Pré-Fabricada” me convenceu de que naquele mato sairia mais coelho. E, dentro do meu “abuso”, não fui atrás de conhecer nada mais que pudesse mudar minha concepção a respeito.

E, falando nisso, incrível a capacidade que as rádios tem de aceitar jabá facim, facim das gravadoras e oferecer pros nossos ouvidos sempre a PIOR música do álbum de cada bom artista, né? Nem sei o porquê, mas coincide de eu geralmente detestar a chamada “música de divulgação”, que fica nos atormentando semanas a fio como se não existisse outra coisa pra tocar (como foi exageradamente percebido na época do auge de “Boa Sorte/Good Luck”, da Vanessa da Mata e “Shimbalaiê”, da Gadu), fazendo com que eu crie uma má impressão da obra da artista e descubra, ANOS-LUZ DEPOIS, o quão maravilhoso o conjunto da obra não-divulgada era. Tá, ok, erro meu. Temos internet, podemos baixar o diabo-a-quatro e não estamos mais amordaçados por gravadoras e rádios pra conhecer o que anda rolando por aí, mas esse foi só um comentário tardio, um desabafo. Vamo voltar pro que INTERESSA?

Até que alguma amiga foi em um show dela aqui em Fortaleza, começo de 2008, e voltou contando maravilhas. “Nem conhecia direito as músicas, mas foi tudo tão legal. Ela tem muita presença!”, foi o comentário que ouvi. Seria a hora de dar o braço a torcer?
Bem, o que acontece é que no mesmo “Belo estranho dia pra se ter alegria”, até então irritante, também havia composições incríveis, adornadas pela interpretação única da Roberta. A primeira música que ouvi e gostei realmente foi “Samba de um minuto”, composição de Rodrigo Maranhão. E foi no que a Roberta pediu carinhosamente “escute o que vou lhe dizer/ um minuto de sua atenção...” (dessa vez, as rádios acertaram) que eu prestei atenção de verdade e pela primeira vez naquela voz, naquele estilo, naquela música. “Nem há amor sem que uma hora o ódio venha/ Bendito o ódio, o ódio que mantém a intensidade do amor, seu ardor / A densidade do amor, seu vigor..”. Com esse “Samba de amor e ódio” foi que surgiu o turning point daquela historinha do começo. O conto de amor e ódio entraria agora na fase doce do amor, da paixão a cada música, do reconhecimento pessoal nas letras e na interpretação.


Aí é que fui saber alguma coisa da vida daquela artista que me dava tantos momentinhos diários de alegria. Fui me tocar que a Roberta era aquela garotinha que passara meio que despercebida pelo Programa Fama (Edição “Fama Bis”), da Rede Globo, no qual fora eliminada já na quarta rodada (eliminação vinda em muito boa hora, diga-se de passagem,  visto que foi convidada a gravar versão da música “A Vizinha do Lado”, de Dorival Caymmi, que entraria para a trilha da novela Celebridade, como tema da personagem de Juliana Paes, e faria com que o público começasse a ter um contato real com sua voz). Oxalá todos os artistas de qualidade fossem eliminados desses realities padronizados e tivessem o mesmo "fabuloso destino" de Roberta Sá!

Desde estão, os passos foram muitos e conquistados firmemente até Roberta se consolidar hoje como uma das reconhecidamente melhores cantoras jovens da música popular brasileira, e uma das grandes vozes dessa nova geração que vem devolver ao Brasil o orgulho e a paixão pelo samba, pelo chorinho, pela bossa-nova. 

A Roberta dos tempos atuais não é mais a menina talentosa, porém um tanto quanto inexperiente, que rebolava os quadris pra entrar no molde da produção do Programa Fama; ela é o perfeito exemplo da balzaquiana, mulher de trinta anos com os quais se alcançaram maturidade nas mais diversas áreas da vida.

De 2002 – quando fez aquilo que ela mesma considerou realmente seu primeiro “show”, no Mistura Fina – pra cá, a caminhada artística de Roberta veio num crescente constante, que coleciona gravações com Chico Buarque, Ney Matogrosso, Lenine, Marcelo D2, MPB-4, interpretações inesquecíveis, como a sequência de shows feita em homenagem à Carmem Miranda, turnês pelo Brasil todo e pelo mundo à fora (Portugal, Alemanha, Cingapura, Japão...), sucesso atrás de sucesso emplacado em trilha sonora de novelas globais (não, o fato de virar mainstream demais não tira o mérito de ninguém), regravações de autorias de grandes nomes da música brasileira, que ganharam um roupagem completamente nova na voz de Roberta (como é o caso de “Pelas Tabelas”, do próprio Chico).

 Foto de divulgação do cd "Pra se ter alegria", 2009.

Roberta concorreu também ao Grammy Latino em 2008, na categoria artista revelação, ao lado do também brasileiro e sambista Diogo Nogueira (sim, muito além de ser um pedaço de mau caminho e dançarino no Faustão, Diogo é sambista de mão cheia da nova geração, sucessor do grande João Nogueira). 

Não, ela não ganhou, e nem o Diogo, por sinal. Mas nós ganhamos um vídeo que prova a "falta de absurdo" que é o nível de (des)informação dos jornalistas(?) brasileiros: a repórter que entrevistou Roberta na entrada do evento nem mesmo se deu conta que, ao lado dela, não estava somente o "maridão companheiro", mas também um parceiro de trabalho e também artista – aliás, artista de carreira sólida e bem anterior à de Roberta – Pedro Luís (do “Pedro Luís e a Parede”). E sim, eu também não sei o nome da repórter (ela não sabe o nome do Pedro Luís, tenho que saber o nome dela por quê?).


Coisa interessante a se comentar no blog, por conta da temática da música feminina, é a constante participação de Roberta em eventos organizados a fim de reunir grandes vozes femininas da atualidade. Foi o caso do show “Sob o mesmo Céu”, realizado em Recife em março desse ano, durante o carnaval, onde também cantaram Elba Ramalho, Fernanda Takai, Pitty, Marina Lima, Céu, Maria Gadu... Coincidência ou não, a quase totalidade das músicas interpretadas foram de autores masculinos.

Agora, por favor, me dêem o prazer de falar sobre um dos maiores motivos que me levaram a escrever esse post (como se eu já não tivesse discursado exaustivamente, né?).
O amadurecimento da carreira da Roberta trouxe um dos frutos mais recentes de todo esse trabalho, resultado de três anos de pesquisas e meu novo vício: o cd “Quando o Canto é Reza”, que homenageia e regrava as pérolas da obra de Roque Ferreira, artista do Recôncavo Baiano intensamente interpretado pelos sambistas brasileiros de antigas e novas gerações (tome como exemplo Maria Bethânia, Zeca Pagodinho, Beth Carvalho...).


A obra é resultado do casamento muito bem feito entre Roberta Sá e o Trio Madeira do Brasil (Ronaldo do Bandolim, Zé Paulo Becker e Marcello Gonçalves), que já tinham se encontrado em outras oportunidades,  mas que resolveram somar os talentos pra produzir um trabalho de delicadeza extrema.



Quando falo delicadeza extrema não me refiro somente à troca dos fortes batuques, característicos do samba de roda e de coco entoado por Roque Ferreira, pelos arranjos das cordas do Trio Madeira, mas sim de uma combinação de fatores que tornam cada canção primorosa. Do cd ao show é tudo encantador: o encarte do cd, o figurino idealizado especialmente para as apresentações (patrocinadas pelo projeto MPB Petrobrás), a interpretação impetrada de suavidade e elegância que Roberta impõe a cada canção, a temática das composições de Roque (a força e a beleza da religiosidade de matriz afro-brasileira, o dengo e a malícia do povo baiano, a relação do homem consigo mesmo, com a música e com o mar).

Só pra deixar o gostinho, vou postar uma das músicas do cd que eu particularmente mais gosto, pela delicadeza (palavra-chave na obra da Roberta Sá, eu diria) dos arranjos, pela combinação da letra com a musicalidade, que faz da canção uma quase cantiga de ninar que mistura amor e saudade.


É realmente um trabalho que vale a pena ser conferido, e pode ser ouvido gratuitamente por aqui.

“Ser cantora nesse país de divas é difícil”. Essa frase foi escrita pela própria Roberta em seu site oficial, quando exibiu uma pequena biografia, aos 27 anos. Depois de toda essa saga, vamos concordar em uma coisa: ela tem feito isso como ninguém.


sexta-feira, 22 de abril de 2011

De mulher pra mulher?

Não, definitivamente não. Tentaria até fazer o trocadilho besta "de mulher pra mulher - música", em referência à jurássica propaganda da Marisa, mas isso só se houvesse alguma relação da frase feita com a proposta do blog. E aqui a parada não é sexismo, é música mesmo. ;)

Como tudo na (minha) vida, isso aqui começou de um questionamento corriqueiro que levou a muitas outras perguntas e a nenhuma conclusão final, mas que , em compensação, me trouxe - e tem trazido - a oportunidade de ter conversas super enriquecedoras sobre o tema com amigos, artistas e transeuntes desconhecidos (!). Afinal, qual o diferencial da música feminina? E esse diferencial existe mesmo ou só sou eu que, de 10 intérpretes que ouço, percebo que 9 são mulheres?

Continuando a idéia do questionamento banal, a culpa toda foi da minha irmã que, certa vez, resolveu montar uma playlist com as músicas  preferidas dela que estavam no arquivo do PC. Resultado: ao notar que TODAS eram cantadas por mulheres (no caso, eram só DIVAS mesmo) ela resolveu nomear a pasta de "Elas Belas". Pronto. Era o que faltava pra acomodar de maneira bastante confortável uma pulga atrás da minha orelha (mas isso só depois de eu ouvir a tal da seleção que ela fez algumas zilhões de vezes, lógico): porque é que eu (e tantas outras pessoas com as quais tenho conversado sobre o assunto) tenho uma tendência tão natural a preferir músicas interpretadas por mulheres?

Diante de tudo isso, talvez quem lê (meu Deus, alguém lê???? Só agora vim me perguntar isso!) talvez se pergunte: se isso não é sexismo, o que mais pode ser? Bem, começo tentando me explicar com uma citação da Simone de Beavouir que tem simplesmente me perseguido depois que a idéia do blog surgiu: ninguém nasce mulher, torna-se mulher; trocando em miúdos, o "feminino" é construção social. Tentando fazer uma analogia meio torta, a música  não é "feminina" porque foi uma mulher que cantou, que compôs ou qualquer coisa assim - ela torna-se feminina a partir do momento em que instaura-se uma aura feminina (nem eu sei se isso existe..) na interpretação. Já viu música mais feminina do que as composições de Chico Buarque? Sim ou não, é quase um lugar-comum o fato de que ele compõe com uma "alma de mulher" (ouça lá "Tatuagem" e tire suas próprias conclusões).

Então, em suma, a idéia aqui é falar de divas de todas as épocas que andam (en)cantando por aí. Sobrando tempo e paciência, a gente pode tentar filosofar (mais?) um pouquinho sobre a idéia de música feminina - mas, como eu não sou Platão pra ser apegado a essa história de mundo das idéias, vou botar a mão na massa pra ir atrás de material musical bem sólido, quase palpável, pra colocar aqui.

Não vou  ficar aqui discutindo muito, se não o post vai ficar muito longo e cansativo (se é que já não está, mas eu tô me dando o direito egoísta de escrever pelo prazer de discursar sobre o tema, e não pra ser legível). 

Encerrando, segue-se um vídeo que, pra mim, foi quase um presente: pequena conversinha com a Roberta Sá (que eu diria ser umas das melhores cantoras jovens da atualidade brasileira), revelação do programa Fama, da Rede Globo, mas que, de tão talentosa, conseguiu desvencilhar sua imagem da idéia do reality musical. Ao final de um show aqui em Fortaleza, ela muito atenciosamente concedeu a resposta (dela) à (minha) pergunta que não quer calar: qual o diferencial da música feminina?








Extra: Divas no banner do cabeçalho: 
Adriana Calcanhoto, Aimee Mann, Alanis Morissette, Alicia Keys, Alcione, Ana Cañas, Amy Winehouse, Aretha Franklin, Bebel Gilberto, Baby Consuelo, Beth Carvalho, Beyoncé, Cássia Eller, Carla Bruni, Céu, Celine Dion, Clara Nunes, Cindy Lauper, Corinne Bailey Rae, Dalva de Oliveira, Diana Ross, Dido, Dolores O'Riordan, Edith Piaf, Elba Ramalho, Elis Regina, Elizeth Cardoso, Elza Soares, Enya, Fernanda Takai, Fiona Apple, Gal Costa, Ivone Lara, Janelle Monae, Janis Joplin, Joan Jett, Joss Stone, Lady Gaga, Lily Allen, Madonna, Madeleine Peyroux, Maria Bethânia, Maria Gadu, Maria Rita, Marie Fredriksson, Marina Lima, Marisa Monte, Maysa, Mercedes Sosa, Norah Jones, Paula Toller, Pitty, Regina Spektor, Roberta Sá, Rita Lee, Shakira, Tereza Cristina, Tina Turner, Tori Amos, Vanessa da Matta, Wanderlea, Zélia Duncan, Zizi Possi.